Como estudar o Apocalipse sem estar preso as correntes de interpretação que tanto atrapalham a compreensao do livro!
Pressupostos teóricos
O Apocalipse foi escrito por um homem, como todos os outros livros da Bíblia. Porém, com o diferencial que os distingue dos demais livros extra-bíblicos: a marca da revelação divina. A sua complexidade, diversidade e riqueza textual o tornam incomum e único na História da literatura universal. Nenhum outro livro do mundo aponta, como ele, com autoridade e de forma segura, simples, precisa, enigmática e profunda, os caminhos da Humanidade e do Universo na conjugação do verbo futuro. Escrito em condições adversas por um cristão talvez idoso, reflete o pensamento de Deus acerca do contexto Humano e da Natureza. É produto da mente de Deus, do que se passou no Seu interior e que Ele, na sua infinita Graça e pelos méritos de Seu Filho Jesus, decidiu entregar aos homens de boa vontade para lhes descortinar, de modo desafiador mas não inacessível, o Futuro da História Humana, do Universo e de suas próprias existências. Pouco há nele que indique tratar de fatos contemporâneos à sua revelação. Sua linha mestra aponta para muito mais à frente que os anos de tribulação do início do cristianismo no Oriente Médio. Em inaudita e incomparável linguagem, desvenda o inalcançável ao homem, deixando-lhe como tarefa o bendito trabalho de, lendo-o com dedicação, mergulhar nas águas tranqüilas que é o mundo maravilhoso das idéias nele contidas. Ninguém está impedido de lê-lo e estudá-lo. Mas sua análise deve ser feita acompanhada de sobriedade, sinceridade, prudência e despojada da vontade e ímpeto de imprimir no texto a sua própria assinatura, como se co-autor dele fosse e desejando formar uma controversa parceria com Deus em sua elaboração. Por isso, tendo um único Autor divino e um único escritor original humano, cabe ao leitor, que não é autor, deixar que o livro fale o que tem para falar. Essa simplicidade na abordagem é a chave para o inicio de sua correta compreensão e evita intermináveis devaneios sobre os significados ocultos em suas linhas. Em vez de apontar caminhos para o livro, permitir-se levar pelos rumos por ele indicados confere ao estudioso uma sólida base de rocha sobre a qual é possível construir possibilidades, elaborar teorias e testar sua viabilidade, deixando sempre espaço para aquisição de novos conhecimentos. Essa postura elimina o receio do contraditório, uma vez que as postulações pétreas têm aversão ao exame acurado, metódico e descomprometido com tendências, e concede ao leitor a abertura necessária e suficiente para assimilar, de modo simples, natural e preciso, os conceitos, idéias, princípios e descrições contidos no texto. Se o livro tem origem divina, é no mínimo prudente tratá-lo como tal, e não ao nível das obras humanas sujeitas a erro, sabendo que seu Autor teve trabalho mental, método e propósito ao elaborá-lo. Daí sua importância, exigindo do leitor humildade no trato direto com o livro e desapego a teorias humanas construídas a seu respeito, o que não significa demérito, visto ser possível, na abordagem direta e simples, alcançar as idéias ali expostas. Pois, se seu Autor é divino, seu destinatário não o é, já que Deus não criou a Revelação para Sua própria leitura, mas para o homem. O maior desafio talvez seja esse cuidado inicial que deve estar sempre presente no desenvolvimento da pesquisa do livro, de seus temas e assuntos. Isso trará paz, alegria e a certeza de não estar trilhando caminhos escorregadios que podem levar ao beco sem saída das construções teóricas mal elaboradas, precipitadas, tendenciosas e conflitantes, que obscurecem a compreensão e impedem novas opções de análise e que se atinja o alvo, que são as idéias, informações e mensagens de validade permanente contidas no livro. Se, por um lado, o texto da revelação tem conteúdo notoriamente futurista, por outro, é sempre atual ao seu leitor no decorrer dos tempos históricos e em todos os lugares e culturas, visto ter sido criado para o Homem, e não para um grupo humano selecionado e delimitado temporal e geograficamente. Contudo, a natureza e peculiaridades do texto o tornam acessível particularmente a pessoas que têm a marca do Seu Autor, através do Seu Espírito. Somente estas, amparadas pela graça divina e dotadas de simplicidade e honestidade, têm os recursos pessoais necessários que lhes possibilitam enxergar através do véu que reveste o livro. Testemunha antecipada da História, o texto anuncia de modo ousado e único Fatos que, a curto, médio e longo prazo, e num contexto local, regional, continental e global, nortearão a História da Humanidade. Embora a ação de escrever o livro tenha sido humana, as idéias nele contidas não o são. Dada sua natureza, a inspiração necessária para compô-lo jamais poderia ser fruto de mente limitada, sob pena irrevogável de tornar-se obsoleto, desatualizado e cair na desconfiança geral de estudiosos argutos, não resistindo às várias provas que, em todo tempo e lugar, lhe autorizam crédito e mérito. Se o homem, em seu esforço de identificar e compreender o Fato Passado, ainda que imediato e contextual, constrói textos e teorizações de valor muitas vezes relativo, o que se diria de um idêntico esforço voltado para o Fato Futuro, ainda que imediato e contextual, ou de longo prazo como é o caso do Apocalipse? Por sua natureza limitada, o homem não consegue antever Fatos Históricos futuros com exatidão e em detalhes, como ocorre no livro. Esse aspecto, por si só, já atesta e qualifica o Apocalipse no rol das produções divinas, e relega todas as outras obras humanas com essa pretensão a meras e mal-feitas tentativas de antever o Futuro, lembrando que o livro é composto de uma linguagem ao mesmo tempo simples e muito rebuscada, e de tal modo que é única entre as produções textuais humanas. Embora os Selos tenham sido abertos, muito do livro ainda hoje continua envolto em névoa, o que o torna um desafio peculiar e constante, sempre presente nos “aions” já passados e quem sabe futuros. O Tempo, verdadeiro mestre das interpretações, denuncia a chegada e ocorrência dos Fatos previamente anunciados no livro. O texto não tem a qualidade e o poder de conduzir e direcionar os Fatos à sua realização futura, mas, unicamente, a de descrevê-los antecipadamente, o que, por si só, já se constitui num evento insondável pela mente humana, ficando muito acima e reservado aos domínios exclusivos da Divindade. Ao homem, pois, objeto da graça e amor divinos, cumpre o papel de expectador ativo, atento, devotado e persistente, no bem-aventurado esforço de reconhecer com exatidão na realidade Histórica a ocorrência, entre todos os Fatos que a compõem, daqueles anunciados previamente pelo texto revelado. Tal benção e felicidade está gravada nas primeiras linhas do livro:
“Bem-aventurado aquele que lê, e aqueles que ouvem as palavras da profecia deste livro, e guardam as coisas nela escritas, porque o tempo está próximo. ” 1.3
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